terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os verdes anos ficaram maduros cedo demais




Última polêmica no Facebook: como estamos no mês das crianças, alguém começou uma campanha sugerindo que cada um dos usuários, durante este outubro, substituísse sua foto de perfil por uma ilustração ou foto de algum personagem de história em quadrinho que tenha marcado a nossa infância.



Legal. Como estou numa fase de contar moedas, homenageei Tio Patinhas. Uma curtição saudável.




Na sequência veio uma, com uma ilustração de impacto sobre Pedofilia, com telefone e outras informações, dizendo; “Melhor do que somente trocar as fotos para desenhos animados, divulgue o contato e número de denúncia”.





Alguns que, optaram por colocar as figuras de gibi, se sentiram ofendidos, como se a outra campanha estivesse criticando-os e demonstrando que estavam sendo fúteis, desprezando um tema sério.
Parem com isso moçada! Dá para conciliar. Escolha sua figura e, sem problema algum, divulguem também a campanha contra a pedofilia. Da para conviver pacificamente com isso. Opa! Desculpem-me. Quis dizer “pacificamente” no sentido figurado. Claro que ninguém pode conviver pacificamente com a pedofilia.
Aliás, não apenas por ocasião do dia das crianças, mas todos os dias devem ser destinados a uma cruzada contra essa prática hedionda que é o abuso sexual contra crianças.
Noite dessas, estava com minha namorada e uma galera num desses points noturnos que se proliferam na cidade em torno das lojas de conveniência dos postos de gasolina e fui dar uma mijada num cantinho escuro. Lá encontrei umas flores de plástico. Sinceramente, não sei o que aquelas flores faziam lá... Peguei, atravessei a rua e perante a platéia presenteei minha amada numa cena digna de Romeu & Julieta, não fosse a sua reação assustada-enojada-surpresa ao dizer “mas são de plástico”. Na verdade não sei se eram de plástico ou de pano. Mas eram artificiais e pareciam aquelas que as pessoas colocam nos túmulos dos cemitérios em época de Dia de Finados, quando todo mundo tem a obrigação de se lembrar dos mortos ou “entes queridos”.
Um amigo me contou então uma passagem em que uma pessoa teria visto uma belíssima rosa natural e, encantado, teria soltado a “perola”: “Que rosa linda. Parece de plástico”.
Veja o absurdo! Uma ofensa à natureza! Como achar que uma rosa de plástico seja tão linda que possa ser comparada e servir de referência à beleza de uma rosa verdadeira... É uma inversão de valores.
E, justamente, por falar em inversão de valores que resolvi escrever este texto. Não tem nada a ver com rosas de plástico. Ou de pano, sei lá... Não tem nada a ver com rosas.
Quero falar sobre crianças... Aquelas cruéis criaturinhas que se julgam no direito de falarem o que pensam, quando querem e do jeito que preferem...
A criança pode arrotar ou peidar na frente de qualquer um... Pode dizer que você é feio, que em sua orelha cabe um aparelho telefônico ou que seu bafo é de defunto... Todo mundo vai achar “uma gracinha”.
E elas sempre levam vantagem. Quer ver?
Se eu e uma criança estivermos nos afogando e o salva-vidas tem tempo de socorrer apenas uma pessoa, adivinha o que acontece comigo?
Na certa, viro comida de tubarão!
Entrei nesse assunto porque dia 12 de outubro é o Dia das Crianças. E aí me toquei de um lance que, conferindo depois, senti que é real. Antes se você tinha 12 anos, era uma criança.
Hoje essas “criaturinhas do futuro” só são chamadas de crianças até os sete ou oito anos no máximo. Depois disso não aceitam o termo. Se autodenominam “pré-adolescentes”.
Um amigo, colunista social, me contou que há alguns anos, quando tinha uma revista, na época do Dia das Crianças, comercializava páginas e páginas de fotos de crianças. Os pais pagavam com orgulho para que seus filhos aparecessem nas revistas como símbolos dos nossos belos verdes anos.
Hoje, os pais continuam querendo. Mas os filhos... Nem pensar!
“Eu, criança?! Ta louca mãe... Os amigos vão tirar uma em mim. Não sou mais criança. Sou pré-adolescente”, se rebelam garotos e garotas de 9-10 anos...
E eu que daria tudo pra voltar a ser criança...
Tudo isso é reflexo da mídia e do consumismo desse terceiro milênio. Antes qual era o grande sonho de uma criança?
Ganhar uma bicicleta!!!
Colocavam recadinhos em todo canto da casa com aquela frase “Papai, não se esqueça da minha caloi”. Que chatice!



Quem não podia dar uma bicicleta pros filhos, atacava do último disco da Xuxa ou de Sandy & Júnior...
Hoje, a criança quer ingresso pra ver o Rock in Rio, ou como minha afilhada quis e obteve, ingresso para ver Justin Bieber. Noutra vez, quer o mais moderno dos videogames, quer um computador de ultima geração, quer as grifes da moda, um piercing, tatuagem... Até ir pra Disney ta ficando ultrapassado...
Na verdade, criança só quer ser criança na hora de ganhar presente!
Aliás, dentro de mim ainda sou uma criança. To esperando meu presente dia 12 de outubro. Pode ser até uma bicicleta... Mas se for o ingresso por SWU, melhor ainda!
Só não me venham com flores de plástico. Elas não morrem jamais... Isso que é o pior.
Mas, falando sério, o melhor presente que as crianças do nosso planeta podem ganhar é a erradicação da pedofilia e da prepotência que coloca a superioridade, seja etária ou física, para mostrar o seu poder. Qualquer tipo de humilhação.
E viva a todos nós, eternas crianças. Cometemos algumas truculências, mas inocentemente, e nada comparável a crimes contra o ECA.

Este post é uma colaboração entre Deh Mendonça e José A. Jayme